
Declaração do pré-candidato é vista por analistas como tentativa de reposicionar sua imagem, reduzir resistências de investidores e atrair eleitores liberais
A sinalização do senador e pré-candidato à Presidência Flávio Bolsonaro de que pretende seguir a linha econômica adotada pelo ex-ministro Paulo Guedes foi interpretada por especialistas como um movimento estratégico para acalmar o mercado financeiro e reposicionar sua imagem na disputa eleitoral.
O anúncio ocorre em meio à desconfiança inicial de investidores após a formalização de sua pré-candidatura. Para Márcio Coimbra, cientista político e CEO da Casa Política, a referência direta a Guedes funciona como um “recado claro e urgente” para um público que ainda demonstra resistência ao nome de Flávio.
Segundo ele, o gesto busca legitimar a candidatura ao associá-la ao liberalismo econômico — marca registrada do ex-ministro — reforçando pautas como responsabilidade fiscal, redução do tamanho do Estado e defesa da eficiência do mercado. “É um recado ao mercado e parte de uma estratégia maior de posicionamento eleitoral”, afirma Coimbra.
Atrair liberais e se afastar da política econômica do pai
O discurso também mira eleitores liberais que rejeitam intervenções estatais e veem com bons olhos agendas fiscais rígidas. Flávio tenta, assim, se aproximar de setores do empresariado, da classe média alta e de grupos econômicos que defendem uma atuação mais enxuta do governo.
Para analistas, o gesto ainda funciona como um movimento de distanciamento em relação à condução econômica do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcada por ampliações de gastos, pressões sobre o orçamento e críticas de patrimonialismo por parte do mercado.
Ao resgatar a imagem de Guedes, Flávio procura reforçar que uma eventual gestão sua estaria alinhada a uma agenda de austeridade, reduzindo ruídos associados ao governo do pai.
Pilares da política de Guedes voltam ao centro do debate
O economista César Bergo, professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a estratégia dialoga diretamente com investidores ao reavivar pilares centrais da política econômica de Guedes: defesa do Estado mínimo, avanço em privatizações, resistência ao aumento de tributos e maior concentração de decisões fiscais no Ministério da Economia.
Segundo Bergo, a menção ao ex-ministro reativa entre parte do mercado a lembrança de uma agenda mais liberal, vista como contraponto ao atual cenário de expansão de gastos e elevação de impostos. O economista, porém, ressalta que o período Guedes também enfrentou entraves importantes, como o aumento da influência do Congresso sobre o orçamento e medidas criticadas por investidores, entre elas o adiamento do pagamento de precatórios.
Para os analistas, Flávio Bolsonaro tenta, com esse aceno, reposicionar sua candidatura e construir pontes com setores essenciais para consolidar seu projeto eleitoral.


